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REFLEXÕES
REFLEXÕES

                                                  TRANSFORMAÇÃO


A morte, da vida descerra o véu.
Impassível, remove o orgânico obstáculo,
Libertando o agoniado espírito
Para o comboio que o levará da terra ao céu.

Se redimida, a consciência à glória conduz,
Asas no vôo ascensional, fulgurante,
Passaporte aos Altos paramos,
Do charco à contemplação da luz.

O montículo de terra o corpo encobre,
O silêncio da lápide o fardo vela,
No processo da molecular dissociação.

Ergue-se, porém, lúcido, belo,
Em outro corpo, ligeiro, sutil,
O espírito, redimido, em magistral transformação.

Tarcisio
20-01-1987
                                   
                                        A VOZ PROFANA 


Muitas vezes a boca faminta de minhas paixões emite sua voz profana, desafiando minha serenidade:”-Escuta-me, insensato!. Alimenta-me com teus desejos mais impuros e eu reviverei as emoções dormentes que foram criadas pela tua exaustão moral. Não podes, ainda, viver sem mim. Sou parte dos amores que tu amaste sem reflexão, por isso ainda moro contigo.
“Beijarei teus lábios ardorosamente até que te chegue o cansaço. Meu hálito te fará esquecer a luta encetada contra ti mesmo e aquecerei os teus sonhos, adormecendo tua áspera disciplina”.
Tão diáfana e envolve a alma com fitas de traição, Tão insustentável, e consegue manter esperanças impossíveis. Tão insaciável, e conserva semblante de impossível satisfação. Por que és tão impiedosa, alegria dos desgraçados?. Por que te d
enominas prazer se és na realidade uma taça amarga de amargos sentimentos?.
Sei que tua ânsia não cessa, não tentarei mais fugir ou mentir a mim mesmo, até que te canses e esgotes a taça da sina tua!!!.
No entanto, num frêmito de ironia, responde-me a voz profana:”-Insensato!. Sou o adubo de tuas futuras virtudes, o impulso primário para a conquista do legitimo amor, não podes, por isso, me destruir.
“Represento, ainda, a elaboração primária de tua alma, o manto negro envolvendo brutal diamante cravado dentro de ti mesmo que, no entanto, requer ser lapidado até fulgir gloriosamente limpido.
“Não me censures desapiedadamente pois um dia deverei cantar-te aos ouvidos suaves canções. Para isso, alimenta-me, então, com as forças do reerguimento moral, perfuma meus lábios nos lábios da caridade e não duelarás tanto comigo em teus torturados conflitos íntimos.
“ouve, insensato!!. Poderá a rosa virgem viver sem os espinhos que a protegem, embora pareçam ser sinônimos de agressão?. A dor não tem moldado as criaturas, transformando-as diariámente?. Não viverás, por isso, sem mim. Todavia, quando chegares no ápice da vida não mais necessitarás me ouvir, desafiando-te, porque, então, sómente pronunciarei em tua própria boca palavras de redenção”.
Ouvindo isto, um tanto perplexo, guardei todas as dores no meu cofre de desencantos e o desejo de ser feliz roubou-me todas as tristezas................caminhei para contemplar o lampejo das distantes estrelas e resolvi, mais uma vez, retificar os impulsos da alma a fim de encontrar sintonia com os que já se superaram.

TARCISIO ALCANTARA - Novembro 1987
                                                                            A ESFINGE


Um dia, encontrei a esfinge de olhos endurecidos me aguardando na encruzilhada de meu caminho. Fitando-me irônicamente, porque sabia dos dilemas que a encruzilhada me apresentava, ela me disse: - “Por que te atormentas procurando valores que são inabordáveis à maioria dos seres humanos que sómente encontraram no sono sem sonhos, uma forma de vida sem conflitos?. Tu és um insensato, deverias seguir o rítmo das vidas medíocres que não se ocupam com o amanhã da alma e nem tão pouco procuram por sentimentos refinados. Mergulha teu rosto nas águas do esquecimento e caminha como os sonolentos o fazem porque o teu despertar sómente te enriquecerá de solidão”.
Depois de ouvi-la em silêncio, respondi-lhe com dolorosa convicção: - “Esfinge, embora teus argumentos pareçam aceitáveis, não posso mais ser como o ser comum que se adapta aos esquemas de uma vida sem aventuras, sem riscos, sem possibilidades de derrotas. Não é possível ser como muitos outros que se programaram para morrerem num dia melancólico e sobre cujos caixões gostariam de receber apenas amargos lamentos.
“Não é possível ser como os que concordam com a sobrevivência sem manifestarem palavras de inconformismo com os métodos adotados pela tirania econômica. O gosto do pão pode ser agradável para os que possuem um paladar mais simples, mas não para os que tem os lábios mais refinados e cuja boca sabe cantar com vigor a presença de uma fome rara. O dinheiro é bom, mas não em toda e qualquer dificuldade. De que vale sua face de valores opostos se ele mutila o ser humano obrigando-o ao silêncio dos covardes ou à omissão dos fracos?. E que forja sorrisos com sua presença e que desencadeia o ódio com sua ausência?. Os seres mais simples, no entanto, não pensam desta maneira pois são incapazes de vasculharem os abismos profundos dos valores humanos.
“Esfinge, ouça-me, bem. Quem tem um EU GIGANTE não pode seguir jamais o tradicionalismo dos indefesos e nem tão pouco se conformar com situações que pareçam protetoras. Deve sempre almejar a sobrevivência sacrificando, muitas vezes, oportunidades lisonjeiras que irão engordar o EGO de comodismo existencial, sómente.
“Mas, para se viver assim, hó esfinge, é necessário ter coragem para poder caminhar numa estrada solitária onde sómente as criaturas humanas conscientes possuem forças para superarem obstáculos inúmeros. Por isso, que importa que eu fale da luz aos que escureceram seus próprios olhos se possuo um coração capaz de conservar o calor que aquece paisagens frias?. Que importa se as poesias refinadas que componho são lançadas ao vento por seres ensurdecidos se são elas que enfeitam meu caminho silencioso?.
“Hó, esfinge, não tente me amedrontar. Não sofro em vão procurando o alvo da vida. Sei que morrerei num silencioso entardecer, ansioso por encontrar na noite que se seguirá, a estrela-guia que vem me conduzindo através dos séculos”.

E quando terminei de falar, a esfinge de olhos endurecidos inclinou sua fronte orgulhosa e enigmática com medo de que eu decifrasse seus segredos pessoais. Talvez ela também sofra num mundo onde as palavras e os sentimentos tem que serem ocultos no véu dos simbolismos que escondem legítimos significados.

TARCISIO ALCANTARA
30-11-1992
 
                                             O AMANHÃ SERÁ AZUL


Quando uma nova primavera chegar, trará consigo o amanhã envolvido numa roupagem azul e reviverá lembranças felizes que ganharão movimento.
Não mais soprará o vento da adversidade. Não mais temeremos as incertezas. Não teremos mais a companhia assustadora do medo, vestido de informações degradantes. Teremos conosco a presença serena de valores dilapidados pelo tempo e consolidados através de ardorosos esforços.
Não mais temeremos os vultos sombrios de nossos enganos, porque terão se transformado numa harmoniosa integração de recursos e experiências existenciais.
Não mais temeremos os ferimentos emocionais, porque eles passarão por sofrimentos derradeiros e mais significativos do que outrora.
Não mais temeremos a dor ou o espinho da agonia moral, pois teremos encontrado no interior de nós mesmos o “véu das núpcias” espirituais que assinalará nossa entrada nos templos sagrados da vida, onde não existe a separação e o exílio.
Nosso rosto abrigará o sorriso juvenil num retrato de permanente harmonia e não precisaremos mais passar pela decadência das formas.
Neste amanhã azul, dançaremos vezes sem conta sob o sol, envolvidos em formas etéreas, sob a chuva de fótons, sem mais estarmos comprometidos com a morte.
Teremos tempo suficiente para saciarmos todas as saudades que desafiaram nosso entendimento e não mais precisaremos buscar o amor, porque o teremos conquistado serenamente.
Não haverá motivo para temermos a sensibilidade de nossos valores porque não haverá contraste chocante com o grosseiro, com o bizarro.
Neste amanhã, que começa HOJE, seremos abrigados numa choupana de tons suaves onde poderemos dormir sob a luz da vida para podermos acordar, inúmeras vezes, sob a vida da luz.
O amanhã será azul nos braços de outra primavera, mas o NOSSO HOJE necessita adquirir significado.

TARCISIO ALCANTARA
09-10-1997

 

                                                                           A MONTANHA DE CRISTAL

 



“É lei, desafio da vida, provação maior, de se viver a própria condição..............”.

É desafio, é dor psíquica, o adentrar-se nos porões da memória, consultar a consciência, rebuscar nos arquivos milenares inscritos nos arcabouços da alma, para reconstruir-se após os golpes dilapidadores do tempo, das correções impostas pela vida.

 

É provação perceber que as membranas do tempo rompem-se periódicamente para que, por momentos, o passado se transforme em presente, num suceder de imagens nostálgicas mostrando abraços que ficaram incompletos.
É desafio saber que muitas feridas abrem-se na superfície dos sentimentos, exalando doridas mensagens, solicitando doces consolos e mergulhadas, ainda, no sangue dos sentidos que tinge a túnica da alma.
É provação maior o acumpliciamento consciente com o saber, com o desejo infrene do conhecimento, numa terra investida de uma cultura que maltrata com a indiferença, o olhar súplice de quem quer ver satisfeita a fome solitária de sonhos que choram. O olhar que percebe a interdependência do Universo governado por um Soberano Amor.
É desafio viver a própria condição quando esta não se apóia em convencionais métodos que mantém os espíritos sonâmbulos.
É desafio viver a dor de ser ao se conviver com angustia gerada por graves questões. É assumir com as mãos nuas o controle do próprio destino.
É desafio conservar as chamas triunfantes nos olhos após o espinho dilacerante das surpresas do caminho, quase terem enrijecido a poesia na alma e roubado as aspirações mais nobres.
É provação observar com agudos sentimentos, o pão nos trigais ser triturado pelas bombas e pelo troar dos canhões enquanto o mundo dos sub-humanos clama de fome em terras incultas.
Quisera reinventar o mundo, antes, muito antes do cogumelo atômico de sangue brotar em Hiroshima, e derramar no vale de todas as misérias humanas, grãos de trigo depositários da luz.
É desafio viver a própria condição quando o cinismo, a insensatez, num crime contra a vida, proclama a morte da razão, da sensibilidade ética.
É dor psíquica, é lei ascensional, escalar a montanha áspera do conhecimento para descobrir-se, desnudar-se, tornar-se autoconsciente, para simplesmente desejar descer à vala dos detritos humanos e contribuir com a existência, para que o mundo frio dos que não enxergam possam ver nossa débil chama de amor consumir-se sob o calor das lágrimas.
Tarcisio Alcantara
27-02-1998